Gafanhoto - A praga

Começava-mos a ouvir ao longe o zzzzzz susurrante do bater de  milhões de asas minúsculas, e era então que a voz da
 miudagem se fazia ouvir nas ruas de Bissau anunciando aos gritos; GAFANHOTO  GAFANHOTO.
Com a aproximação da nuvem imensa de  gafanhotos do deserto ( Schistocerca  gregária ), o sol desaparecia e a
semi-obscuridade instalava-se enquanto toda a gente deitava mão de tudo o que pudesse fazer barulho, na vã tentativa
de assustar aquela horde de vorazes mastigadores de tudo quanto era verde.
 As folhas dos mangueiros,cajueiros,goiabeiras, papaieiras, hortaliças e afins,cobriam-se de tal maneira,que num ápice
 desapareciam trituradas pelas bocas ávidas.
  Para nós crianças era uma alegria, andar com o que tivesse-mos nas mãos a tentar matar o maior número possível daqueles bicharocos, que ora saltavam ora voavam numa dança sem ritmo com constantes mudanças de direcção.
 Nha  mamé  ku parim i ka ta kaba!
   Por muitos animalejos , que as nossas eficientes armas (ramos, tábuas, chinelos etc) abatessem, nada conseguia deter aquela nuvem ondulante. Depois de roerem tudo o que servisse de comida, os gafanhotos começavam a desandar levantando voo com destino a novas paragens, deixando para traz os ramos despidos de qualquer verdura, num espectáculo de imensa desolação. Como começara assim acabava. Com o  zumbido constante  a esmorecer , e a luminosidade a tornar-se mais evidente,
já não estávamos em inferioridade.Coitados dos retardatários.
A vingança era certa.

Era assim em Bissau.