Quem viveu em Bissau na década de 1960, lembra-se certamente, que em frente da já então Pensão da D. Berta, do outro lado da Avenida da República, actual Avenida Amílcar Cabral, havia na esquina um quiosque pertença de D. Berta onde nos podia-mos deliciar com o famoso sorvete.
    Aconteceu que há data, e no tempo em que praticar desporto era salutar e descomprometido, jogava eu hoquei em patins nos juvenis da União Desportiva Internacional de Bissau ( U D I B ), clube ainda hoje existente.
   Um quente anoitecer,depois de um desafio de hóquei e de termos guardado os equipamentos nas instalações do clube ao lado do cinema, para festejarmos a vitória, deslocamo-nos em grupo (éramos cinco ou seis  orgulhosos atletas juvenis), avenida abaixo com destino ao quiosque da D. Berta para a celebração ser feita com sorvete.(agora é com cerveja).
    Chegados ao quiosque e porque eram parcos os tostões nos nossos bolsos,  havendo até quem não tivesse dinheiro nenhum, e fazendo parte da cultura do povo simples da Guiné, o repartir, tratamos de reunir o vil metal para ver quantos sorvetes podia-mos comprar. Para decepção de todos, o dinheiro não chegava para comprar um para cada um, faltando dois ou três se não estou em erro. De qualquer modo lá pedimos os gelados com a intenção de passarem de boca em boca para todos darem a sua lambidela.
    Depois de metade do grupo ser servido e a outra metade ter ficado a olhar, quando vamos para pagar, D. BERTA que nos conhecia , e que tinha estado a observar as nossas contas e recontas, com aquele sorriso  bondoso  que lhe era
característico, perguntou se  estávamos a festejar alguma vitória, e ao respondermos que sim disse: Então os sorvetes são por minha conta. E mandou que fossem distribuídos os sorvetes que faltavam, recusando-se a receber o pouco dinheiro que tinha-mos.
    Não se lembrará dona Berta, que com este seu acto de bondade marcou para toda a vida aquele grupo de miúdos, mas eles, os que estão vivos, lembram-se.

Bem haja .

PORQUE NUNCA ESQUECI DONA BERTA.?